Fonte: brasilagro
O agronegócio voltou a ter um número de pessoas ocupadas acima do que tinha antes da pandemia. Dois fatores podem levar a esse cenário, segundo Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia de Aplicada).
Um deles é a recomposição do setor após a pandemia. Esse aumento pode estar ligado também a uma volta do crescimento do mercado de trabalho no agronegócio, devido à expansão do setor nos últimos anos.
Com base em dados da Pnad-Contínua, da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e do IBGE, o Cepea apurou que o agronegócio tinha uma população ocupada de 18 milhões de pessoas no segundo trimestre deste ano.
Esses dados incluem trabalhadores nos segmentos de insumos, produção agropecuária, agroindústria e agrosserviços.
O total de ocupados no agronegócio vinha caindo ano a ano. No segundo trimestre de 2012, estava próximo de 20 milhões. Recuou para 17,98 milhões em 2018, mas voltou a subir para 18,36 milhões em 2019, antes da pandemia.
Com a chegada do coronavírus, a força de trabalho no setor caiu para 16,73 milhões no ano passado, mas retornou para 18,04 milhões neste ano.
O crescimento do quadro de trabalhadores pode ser real, devido ao bom desempenho do setor. O Valor Bruto da Produção deverá superar R$ 1,1 trilhão neste ano; as exportações ficarão acima de US$ 115 bilhões (R$ 615 bilhões); e a produção de grãos, apesar da forte queda do milho, será de 253 milhões de toneladas.
Com isso, o Cepea, que considera preços e volumes do agronegócio dentro e fora da porteira, deverá apontar um PIB (Produto Interno Bruto) recorde para o setor neste ano.
O Ipea (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada), que acompanha produção dentro da porteira e adota critérios diferentes, também prevê crescimento para o PIB do setor. A estimativa do instituto é de 1,2% para o ano.
Dados divulgados nesta segunda-feira (27) pelo Ipea apontam uma recuperação do mercado de trabalho no país. O aumento se deve, porém, à ocupação mais intensa nos segmentos informais do mercado de trabalho.
Entre eles estão os empregados sem carteira e os trabalhadores por conta própria. No segundo trimestre de 2021, o emprego sem carteira teve alta de 16%, enquanto os com carteira tiveram elevação de apenas 0,1% no setor privado.
No agronegócio não é diferente. A população ocupada no setor cresceu 7,9% no segundo trimestre deste ano, em relação a igual período anterior, segundo o Cepea. Ou seja, o setor incorporou 1,32 milhão de vagas.
Os empregados com carteira assinada no agronegócio tiveram aumento de apenas 0,5% no período, enquanto os sem carteira assinada aumentaram 17%. No grupo dos trabalhadores por conta própria, a alta foi de 15%.
Os dados do Cepea apontam, ainda, que a força de trabalho cresceu 18% entre as pessoas sem carteira assinada e 10% entre as com carteira assinada.
As mulheres ganharam mais espaço, com a população ocupada feminina crescendo 10,4% no setor, enquanto a masculina teve evolução de 6,6%. As mulheres ocupavam 6,6 milhões dos 18 milhões de postos de trabalho no setor do agronegócio de abril a junho deste ano.
A crise econômica vivida pelo país piorou o rendimento dos trabalhadores. Os que estão dentro da categoria de empregados tiveram perda de 3,1% no rendimento neste ano, em relação ao anterior.
Já os empregadores melhoraram em 8,4% seu faturamento, e os que trabalham por conta própria, em 9,6%. Na média, os rendimentos dos empregados no setor do agronegócio caíram 3,1%, acima dos 2,9% do país como um todo.
Rennó diz que o agronegócio vinha registrando uma formalização maior dos trabalhadores antes da pandemia. A chegada ao setor de trabalhadores com instrução elevava a média salarial.
Com a crise, os trabalhadores sem instrução foram os primeiros a deixar o setor, elevando a média salarial dos que ficaram. Com o retorno deles, essa média é puxada para baixo.
Conforme o relatório do Ipea desta segunda-feira, a taxa de desemprego recuou mais nas regiões onde o agronegócio tem forte presença.
É o caso do Centro-Oeste, cujo percentual caiu para 11,6% neste segundo trimestre, abaixo dos 12,5% de há um ano. A taxa de desemprego também recuou no Sul, mas aumentou nas demais regiões (Folha de S.Paulo, 28/9/21)